sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Sou quase um rico

Desde muito cedo sempre gostei de dinheiro: Gostava de recortar nas revistas as figuras que representavam dinheiro, depois disso brincava com os meus amigos de cidade. – Cidade? – Era o nome que a gente dava para o nosso jogo – é muito similar ao banco imobiliário, acho que eles até copiaram a minha idéia ou fui eu quem a copiei a idéia deles. Mas no nosso jogo a gente montava, com caixas de sapato e afins, as instituições do jogo: Farmácia, escola, supermercado, banco e etc. Eu sempre era o banco. Os meus amigos me odiavam, pois eu sempre atolava os caras com os juros: se o cara pegasse 100 pilas comigo; em 3 jogadas, eu cobrava 150 pilas depois – eu era pior que judeu. Ah! E se o cara não me pagasse eu chamava o segurança – era o cara mais velho da turma: mongolão e alto (mocorongo), que era um péssimo administrador que sempre me devia dinheiro. Porém, a violência não era para existir no jogo, mas a única forma dos caras me pagarem era sendo por ameaças. Assim sendo, eu reduzia a divida do mocorongo para ele dar umas porradas nos outros e assim eles me pagarem ou renegociar as dividas. Até que era divertido ver os meus amigos apanhando. Incrível como a vida imita a arte.

Achei muito curioso lembrar destas brincadeiras. Hoje acontece justamente o inverso: Não tenho um tostão de merda no bolso; Tenho raiva do meu gerente, que me atola de juros; Tenho raiva do meu contra cheque que não atende as minhas necessidades; Tenho raiva quando o meu celular toca e do outro lado uma criatura diz:

–Boa Tarde! É o Sr. (Nome completo)?
–Sim. – respondo já com muita raiva, pois sei que se trata de cobrança.
–Verificamos no nosso sistema, que consta um débito que venceu no dia XX. O Sr. sabe o que aconteceu?
–Sim, eu sei.
–O que aconteceu?
–Eu não paguei.
–Qual o motivo pelo qual o Sr. não pagou?
–Dificuldades financeiras. – pronuncio esta frase ironicamente imitando o Pelé. Lembrar da propaganda da pfizer.
(...)
A mulé segue me enchendo o saco.
–Quando o Sr. pretendo efetuar o pagamento?
Lembrei do meu irmão: o mestre dos calotes. Usando a artimanha eu começo a indagar com a voz um pouco alterada.
–Tá me chamando de caloteiro?
–Não Sr., é apenas para deixar registrado no sistema.
–Olha! Eu não sou um caloteiro; sou apenas um mal pagador.
–Sr.! Eu não te chamei de caloteiro, nem mesmo de mal pagador.
–Então porque está me ligando?
–Estou te ligando para registrar a data que o Sr. pretende efetuar o pagamento.
–Ah! Tá! Seguinte, eu não estou devendo somente para vocês, tem mais um monte gente que eu também devo. Eu farei o seguinte: Todo o inicio do mês eu faço um sorteio das contas que eu irei pagar. Mas eu vou te adiantar uma coisa. Eu geralmente manipulo o sorteio. Então, se vocês continuarem me importunando com as cobranças, vocês não participarão do próximo sorteio.
(...)

–Nossa como este tipo de coisa me atormenta. –Tá tudo errado. Eu queria ter muito dinheiro: conseguir ter mais dinheiro que eu sou capaz de gastar. Às vezes, chego a pensar que eu nasci no lugar errado. Eu tenho tudo que uma pessoa rica deve ter: gosto das coisas que são caras; não me contento com o que é simples; tenho hábitos alimentares sofisticado; gosto de viajar e sair; tenho bom gosto (O bom gosto é inimigo do dinheiro). Mas não tenho o principal: O DINHEIRO.

Recordo-me de uma aula de economia: Os estágios da moeda, como surgiu o dinheiro. A moeda veio para substituir as trocas comerciais, também tinha um papel fundamental para divulgação da imagem do imperador: tinha num dos lados da moeda a lata do imperador. Naquela época os métodos de comunicação eram rudimentares. Assim, o povo ficava conhecendo o seu imperador através da moeda. –Putz! Lembrei que até nome de imperador eu tenho.

Eu necessito ser rico. Deve ser muito bom ser rico. Tem gente que diz que dinheiro não traz felicidade, então para estas pessoas eu digo: São uns hipócritas. Dê-me o dinheiro que eu serei muito mais feliz. Falta só isso para eu ser um rico. Alguém me ajuda?

Nenhum comentário: